Pacto e Vamos lançam comunidade de aprendizagem e desenvolvimento voltada a OSCs

E se em vez de ofertar apoio individualizado a cada organização da sociedade civil (OSC), fomentássemos uma comunidade de aprendizagem e desenvolvimento entre pares?

Esta é justamente a ideia por trás da SimbiOsc, uma realização da Pacto e da Vamos (parceria formada por Fundação Lemann, Instituto humanize e República.org) que visa fortalecer o ecossistema brasileiro de organizações da sociedade civil por meio de um ambiente de trocas e aprendizagem contínua para seu desenvolvimento institucional e ampliação de seu impacto social, ambiental e econômico.

Resultado de mais de duas décadas de atuação da Pacto junto ao campo e do investimento da Vamos no desenvolvimento do setor, a iniciativa é fruto do primeiro ciclo de aplicação do Diagnóstico Organizacional Regenerativo junto a um grupo de OSCs, que permitiu mapear os principais desafios para o desenvolvimento das organizações.

“Muitas vezes, as lideranças dessas instituições estão tão tomadas pelos desafios ‘da porta para fora’ e pressionadas a dar respostas a demandas sociais e ambientais, que sobra pouco espaço para que elas possam trocar dúvidas e dilemas do seu dia a dia. Acreditamos muito no potencial de aprendizagem a partir da troca de conhecimentos sobre o que elas estão testando ou fazendo e tem dado certo ou não”, observa Sergio Sampaio, sócio-fundador da Pacto.

Joice Garcia, do Instituto Humanize, explica a ideia por trás da aposta que inaugura um modelo inovador de financiamento voltado à evolução conjunta de OSCs, em vez do mais usual, que seria apoiar cada organização individualmente.

“Nas experiências de desenvolvimento institucional que apoiamos ao longo da nossa parceria com a Pacto, as OSCs sempre traziam o desejo de terem um espaço para troca e aprendizado entre pares. A SimbiOsc foi pensada para preencher essa lacuna.”

Para Cosme Bispo, da Fundação Lemann, as cerca de 200 mil organizações existentes no Brasil vivem um momento de complexidade, que dificulta ainda mais seu planejamento e longevidade.

“Mais do que nunca, essas organizações precisam atuar de maneira coletiva. Dependemos dessa conexão não só para construir um setor mais potente e plural, mas, certamente, também para um Brasil mais justo e igualitário para todas e todos.”

Jornadas de Aprendizagem

A SimbiOsc inaugura este mês o primeiro ciclo de Jornadas de Aprendizagem, uma série de formações que serão ofertadas aos membros da comunidade por uma rede de parceiros. Os temas abordados serão Gestão de Pessoas, Estratégia e Design Organizacional e as oficinas acontecem de agosto a novembro. Para essa primeira rodada foram selecionadas 27 organizações.

Cada Jornada será conduzida por facilitadores, consultores e especialistas parceiros e contará com aulas expositivas, webinars e masterclasses; oficinas práticas; círculos de aprendizagem entre participantes; mentoria para aplicação prática dos aprendizados na organização; além de conteúdos exclusivos.

Sergio reforça a expectativa dos organizadores da comunidade de que as Jornadas dêem ênfase à aprendizagem entre pares.

“Nosso desejo é que o conteúdo das Jornadas seja construído com base na realidade e experiência das organizações, de maneira que o conhecimento e o desenvolvimento resultem de uma troca horizontal entre elas.”

O sócio-fundador da Pacto também reforça o diferencial da iniciativa, que é promover um desenvolvimento ‘da porta para dentro’, para resolver problemas relacionados à gestão de pessoas, planejamento estratégico, monitoramento e avaliação, diversidade nas equipes, entre outros.

“Pode ser que um dia a SimbiOcs decida atuar como rede e essa será uma consequência positiva. Mas o foco da comunidade é preencher uma lacuna na oferta de espaços para que as lideranças dessas organizações possam sentar com seus pares para entender como podem atuar melhor. Se isso já é uma necessidade colocada em setores como o empresarial, que dirá no universo das OSCs, que precisam atuar em prol do bem comum”, salienta.

Perfil das organizações e lideranças

Para o primeiro ciclo das Jornadas de Aprendizagem foram selecionadas duas duplas de 36 organizações, que irão se revezar  entre os três temas.

Joice explica que o processo seletivo levou em conta áreas e temas de atuação, como gestão pública, meio ambiente, educação, desenvolvimento econômico e justiça social. Outros critérios utilizados para a composição do grupo dizem respeito ao tamanho da equipe e o local de incidência.

“Acreditamos que essa diversidade enriquecerá as conversas  e catalisará o potencial de inovação na gestão das OSCs. Além disso, tratam-se de organizações que buscam e valorizam o desenvolvimento institucional contínuo como instrumento para serem mais eficientes e potencializarem a transformação social que querem ver no mundo.”

Os organizadores reforçam ainda o papel de liderança e poder de influência e tomada de decisões dos participantes, fundamental para que o processo possibilite mudanças organizacionais efetivas, além da influência, mobilização e articulação com outros atores do ecossistema.

“O Diagnóstico Organizacional Regenerativo jogou luz sobre as principais potências e necessidades de desenvolvimento institucional dessas organizações. O que começou com o desejo de apoiar um grupo de OSCs, se revelou uma estratégia potente, agregando o aspecto de comunidade, com mais organizações, diversidade, cooperação e crescimento conjunto, uma verdadeira simbiose”, afirma Ana Karolina Andrade, Gestora da Comunidade e Consultora Associada da Pacto.

Juntas, vamos mais longe

A SimbiOsc também prevê atividades abertas para que outras organizações e profissionais do campo possam acessar conteúdos produzidos por e para a comunidade e participar de masterclasses e encontros com especialistas. O intuito é promover e incentivar interações que ajudem no fortalecimento e desenvolvimento não apenas das OSCs participantes da comunidade, mas de todo o ecossistema.

“Para além das Jornadas, nós apostamos na realização de atividades e trocas espontâneas protagonizadas pelas próprias organizações nesse espaço. Nosso desejo não é que as organizações sejam mobilizadas apenas por uma jornada específica, mas que elas sejam protagonistas desse ambiente a partir de demandas e ofertas que façam sentido para seus desafios e dilemas”, explica Sérgio.

Para o sócio-fundador da Pacto, a comunidade se apresenta ainda como oportunidade para otimização de recursos, muitas vezes escassos no ecossistema.

“Motivadas por uma ‘dor’ comum, imaginamos que as organizações também possam, por exemplo, se juntar para contratar um consultor, otimizando o recurso disponível entre o grupo, seja dividindo o custo ou ainda oportunizando essa experiência a organizações que não possuem orçamento para isso, também partilhando do valor da generosidade. A SimbiOsc depende de cada um de nós internalizar esses valores para se tornar pulsante e potente. Da nossa capacidade de compartilhar recursos, de pedir ajuda, de construir relações de confiança e de atuar como protagonistas dessa comunidade.”

Impacto para dentro e para fora

Sergio observa ainda que a Teoria de Mudança da SimbiOsc prevê que o fortalecimento gerado às organizações por meio da iniciativa escalem seu impacto no mundo e nas pessoas.

“Nossa intenção é que o conhecimento construído no ambiente da SimbiOsc possa transbordar e furar essa ‘bolha’ para chegar à maior parte do universo brasileiro de quase 200 mil organizações da sociedade civil. Acreditamos que o impacto ‘da porta para fora’ é algo derivado da evolução das competências das organizações.”