Desafios, oportunidades e tendências do trabalho remoto para as OSCs

Um dos principais impactos da pandemia de Covid-19 se deu no mundo do trabalho. Com a necessidade de distanciamento social no momento mais complexo da crise, o trabalho remoto foi uma alternativa encontrada por parte das empresas, organizações da sociedade civil e instituições públicas no momento mais emergencial da crise.

Entre as organizações da sociedade civil, o modelo de trabalho remoto ou híbrido (presencial e online) gera inúmeros desafios, que passam pela falta de recursos financeiros e tecnológicos, mas também por sua natureza e papel na resposta à situação de emergência.

Em 2020, uma pesquisa realizada por Mobiliza e Reos Partner buscou entender esses impactos durante a pandemia e também no pós-crise.

Se por um lado, o levantamento demonstra que 87% das OSCs ofereceram algum tipo de atendimento às populações afetadas pela Covid-19, como distribuição de alimentos e/ou produtos de higiene e atividades de prevenção e conscientização, por outro, o estudo aponta que a maioria foi afetada pela crise.

Quase metade das organizações (44%) ouvidas afirmaram ter adaptado suas atividades para atender a seus públicos de forma remota. Essa adequação parece ter gerado um duplo sentimento nas organizações, que ora enxergam como positivo o maior uso das ferramentas digitais, ora como desafiador.

É o caso do Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS), umas das organizações participantes do primeiro ciclo do Diagnóstico Organizacional Regenerativo e da Comunidade SimbiOsc, iniciativas da Pacto, em parceria com a VAMOS (aliança formada por Fundação Lemann, Instituto Humanize e República.org), que visam o desenvolvimento e o fortalecimento institucional de organizações da sociedade civil.

Como resultado dessa jornada imersiva de regeneração institucional em tempos de crise e mudança de cenários, a organização, que atua nas áreas de Educação, Empreendedorismo, Engajamento Comunitário e Inclusão Social e Bem-Estar, está reposicionando  seus objetivos institucionais para alcançar excelência em gestão, pautada em cinco pilares: Inovação Social, Transformação Digital, Ampliação de Impacto, Gente e Cultura e Governança Integrada.

Fábio Muller, diretor executivo, e Roselene Souza, diretora de Gente e Cultura, listaram alguns desafios do trabalho remoto que fizeram e ainda fazem parte do dia a dia da organização com a pandemia. Alguns, além de oportunidades, também projetam tendências para a atuação das OSCs no próximo período.

Confira a seguir.

[DESAFIOS]

Digitalização da atuação

A adequação digital de todo fazer do CIEDS para que os projetos e programas continuassem a ser desenvolvidos e implementados com a mesma qualidade foi um grande desafio para a organização e demandou a adoção de tecnologias de mercado, ampliação dos canais digitais de comunicação, (re)estruturação de redes lógicas, apropriação de metodologias e ferramentas, adequação da infraestrutura, práticas e processos às novas demandas legais de uso e proteção de dados, mas também a criação de soluções autorais em diferentes áreas, como, por exemplo, gamificação de processos educacionais. 

Desigualdades digitais

Outro desafio importante diz respeito às desigualdades digitais que marcam a sociedade brasileira, sobretudo os públicos atendidos pelo CIEDS, que é composto, em sua maioria, por populações que vivem em situação de alta vulnerabilidade socioeconômica e, portanto, não possuem acesso restrito à Internet e a tecnologias para interações online.

Home office

Nesse quesito, o CIEDS enfrenta dois desafios: a falta de recursos financeiros para apoio às despesas das equipes em trabalho remoto (mobiliário, conexão adequada, entre outras) e os efeitos do isolamento dos colaboradores. Para lidar com esse último, a organização criou o “Bem Viver CIEDS”, uma estratégia voltada ao cuidado da saúde mental, emocional e física dos colaboradores.

[OPORTUNIDADES]

Revisão do modelo de gestão

A equipe de gestão do CIEDS encarou os desafios da pandemia como uma oportunidade para se debruçar sobre os relatórios do Diagnóstico Organizacional Regenerativo.

A organização desdobrou o diagnóstico em uma consultoria que a apoiou na constituição de um modelo de gestão mais integrador, ágil e horizontalizado.

Todo esse processo resultou na Jornada Prosperidade 360º, composta por espaços de participação, colaboração e integração de todo time do CIEDS:

Reuniões ampliadas: envolvendo todas as equipes e as diretorias, para o compartilhamento de saberes, boas práticas e experiências a partir de processos de governança e dos projetos implementados;

Círculos de gestão: com a participação das diretorias e dos líderes de áreas e setores, com foco na estratégia institucional: Gente e Cultura (foco na gestão com, para e por pessoas), Sustentabilidade (foco na sustentabilidade institucional) e Geração de Valor (foco no impacto social proporcionado pela instituição).

Café CIEDS: café da manhã mensal para integração dos colaboradores e celebração de aniversariantes do mês.

Bem Viver CIEDS: reuniões a cada três semanas onde se configura um espaço de cuidado da saúde mental, emocional e física dos colaboradores e seus familiares, com a participação de parceiros e voluntários que desenvolvem temáticas específicas e escolhidas pelos próprios colaboradores.

 Transformação Digital

A adequação e aprimoramento da gestão digital foi um desafio, mas também uma oportunidade para várias organizações da sociedade civil e com o CIEDS não foi diferente. Esse processo tem gerado na organização uma série de frentes, para além da dimensão mais importante: Gente. Algumas delas são:

Garantia de direito a seus públicos: unificação, higienização e estabelecimento de rotinas automatizadas de exclusão de informações em banco de dados com modelagem própria e conectada com o fazer de uma organização social, que confere maior capacidade de adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Aumento de transparência e eficiência organizacional: automação da gestão organizacional em parceria com a vertical non-profit da Oracle, tornando a operação em nuvem integralmente, facilitando a integração das equipes que estão em diferentes territórios e até mesmo fora de escritórios. Contribuindo para uma atuação integrada, íntegra e conectada com tendências de boas práticas de governança corporativa.

Automação da gestão de impactos institucionais: complementar ao cadastro unificado de usuários estamos automatizando estratégias de avaliação socioemocional desenvolvida pela própria equipe do CIEDS, combinando com pequena experimentação de inteligência artificial no rastreio de jornadas visando maximizar a capacidade de assertividade e geração de impacto social.

[TENDÊNCIAS]

Escalabilidade: por meio dos recursos digitais, a ampliação da atuação deve resultar em maior escala dos impactos socioambientais positivos.

Diversidade: a integração de profissionais de diversas localidades gera a agregação de valores e saberes multiculturais ao fazer institucional. No caso do CIEDS, foi possível ampliar a equipe com a chegada de profissionais espalhados pelas cinco regiões do país.

Desenvolvimento de competências para a sociedade do futuro: a aquisição de habilidades e competências digitais permite maior conexão, interatividade e agregação de diversos perfis.